MOSTRA DRUMMOND E O CINEMA
Curadoria de Roberto Said e Pedro Rena
Belo Horizonte, Cine Humberto Mauro
7 a 17 de novembro de 2024
A mostra e seminário “Drummond e o cinema” explora as relações intrínsecas entre vida e obra do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) com o cinema, em suas múltiplas faces, ao longo do século XX, sem desconsiderar suas reverberações na contemporaneidade. Desde a juventude, quando perambulava pelas espaçosas ruas da planejada cidade de Belo Horizonte, no decênio de 1920, Drummond encontrou no cinema uma paixão que o acompanharia por toda a vida. Do cinema mudo ao cinema autoral, do preto e branco ao tecnicolor, da era de ouro hollywoodiana aos blockbusters, passando pelo cine soviético, neorrealismo, nouvelle vague e cinema novo, a história do cinema é também parte constitutiva da história do poeta itabirano, que moldou sua sensibilidade e calibrou seu olhar e sentimento de mundo com os planos e enquadramentos cinematográficos. Vale lembrar que seu primeiro artigo crítico discutia um filme, Diana, a caçadora, bem como a polêmica por ele provocada na nova e conservadora capital mineira. Além de comentários e resenhas críticas sobre a sétima arte, Drummond também escreveu, muitas vezes sob o disfarce dos pseudônimos, crônicas e poemas arrebatados sobre celebridades do cinema, que sobre ele exerceram enorme fascínio, como Charlie Chaplin, o “homem do povo”, e Greta Garbo, sua “mulher-fábula”. Para além da dimensão estética e do encanto aurático com os astros das telas, o poeta se interessava igualmente pelo cinema como fenômeno cultural e industrial das sociedades de massas, tendo ele refletido sobre o imaginário fomentado por essa espécie de “religião laica” da vida moderna, sobre as novas formas de convívio e sociabilidade inscritas no cotidiano do homem comum, assim como sobre os problemas de produção e distribuição do cinema nacional. Cabe ainda mencionar o profícuo diálogo que Drummond estabelece com o cinema – arte por excelência do corte e da montagem – na construção de sua poética.
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Ao longo da mostra, discutiremos a influente presença dominante de Drummond nos debates literários e sociais interessados em discutir nossa modernidade. Em outras palavras, esboçar elementos para uma questão que se revela hoje incontornável: por que Drummond? A poesia drummondiana, comparável às grandes obras do século se afirma não apenas como forma criadora original, servindo de parâmetro estético para a literatura brasileira, mas também como percepção alargada da história, sem, no entanto, se reduzir ao registro documental.
Atenta ao universo sensível criado pelo poeta cinéfilo, a mostra reúne, com o duplo desejo de celebração e provocação crítica, alguns filmes e atores admirados e/ou comentados por Drummond com outros inspirados e/ou adaptados de sua obra poética. Para tanto, conta, em sua diversificada programação, com o auxílio luxuoso de comentadores da primeira linha da crítica cinematográfica e cultural brasileira, em mesas de conversação com o público, disseminadas durante os dias de realização do evento. A entrada na sala Humberto Mauro, esse templo do cinema belo-horizontino, é gratuita!